No reino da formiga a rotina
começava cedo... Cada grupo de trabalho tinha sua designação que era cumprida rigorosamente
todos os dias. E o formigueiro crescia e
as formigas continuavam a trabalhar
incessantemente. Não tinha lazer não tinha tempo de sobra embora o formigueiro
estivesse cada vez maior com mais formigas para trabalhar nada parecia mudar.
As mais velhas já cansadas não ousavam reclamar embora em seus pensamentos questionassem.
Era evidente que havia algo errado. Com o formigueiro em expansão e maior
numero de trabalhadores as coisas deveriam estar bem melhor. Os armazéns não
estavam mais abastados e nem o formigueiro parecia mais desenvolvido. Os
alardes ocultos dos mais velhos começaram a se tornar entre burburinhos o assunto do dia, do mês... Os mais ousados que se atreviam a fazer
comentários eram evitados, não que não fossem ignorados pelos outros é que
todos temiam falar abertamente. Um dia,
porém apareceu uma formiga entre aqueles que tinham poder e revelou que parte
do dinheiro do formigueiro estava sendo usado de modo injusto para benefício
próprio. Esta notícia caiu como um refrigério para o formigueiro cansado de
tanto trabalhar. Seus clamores haviam sido atendidos, enfim uma formiga justa para brigar pelos seus
direitos... E a cada nova denúncia, pois como num efeito cascata, novos
corruptos foram surgindo, o povo aclamava a formiga justa. Cartazes enalteciam
seus feitos, o seu nome perpetuava na mídia como o salvador do formigueiro. Por
causa das suas investidas as formigas mais velhas foram beneficiadas com menos
trabalho e os mais jovens começaram a ter mais tempo para cuidar da sua vida.
Grandes feitos começaram a melhorar a
vida no formigueiro num geral. Por onde passava a formiga justa era
enobrecida com aplausos e coros gritando seu nome. Não demorou muito para de
formiga justa ser aclamado como justiceiro. Pois, suas descobertas foram cada
vez mais engendrando os corruptos que foram aparecendo como flor na primavera. E
tudo que fazia o povo aplaudia. Meios escusos usados ? Não importava, o que
importava era a justiça. Que a justiça seja feita, gritava o povo.
Anos a frente quando todos as ramificações do crime tinham sido
removidas pairou uma calmaria no formigueiro. O justiceiro passou de ser notado
como benfeitor. Não que caiu no esquecimento mas já não havia motivos para
aclamações numa sociedade onde tudo está funcionando bem. O justiceiro, todavia
começou sentir um vazio, uma necessidade de ser ovacionado como em tempos idos.
Sentiu que sua vida perdera o sentido, algo naqueles clamores o faziam se
sentir importante, vivo, poderoso. Ele
era o libertador do seu povo e no entanto o povo era ingrato. Precisava acontecer algo novo
para que voltasse aos bons tempos.... E começou a confabular com seus botões se
não havia corruptos escondido numa carapaça de bons moços. Um conhecido
comerciante da cidade que muito aparecia na mídia por conta do seu restaurante
muito bem frequentado chamou atenção do justiceiro. Deve ser corrupto. Aí, esta
a grande oportunidade de fazer meu nome subir as alturas novamente. Pediu
para bloquearem o telefone do conhecido
comerciante e durante meses sua vida foi vasculhada. Descobriu-se que tinha uma
amante, uma não 3, mas suas contas pareciam justa, nada que indicasse
corrupção. Mas, o justiceiro precisava da mídia, não podia viver na obscuridade
e resolveu que mostraria ao povo que o conhecido comerciante não era tão bom
assim. Ah, seu justiceiro, justiça
demais para pecados de menos.
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