Depois de ter ido ao inferno. Me desentender com os que ama por objetivos que achei que valia à pena. Depois de entrar no ermo escaldante de criaturas asquerosas, de sentimentos bisonhos.
Depois do coração apunhalado com palavras lúgubres, de verdades entranhadas no passado serem reveladas, e sem piedade trazer a tona aquilo que só eram desconfianças. Esparramando um negrume espesso sobre meu coração flagelando toda minha credibilidade, irremediavelmente.
Depois de acomodar hospitaleiramente meus pesadelos no seu lar. Açoitar minha imaginação com horrores e estoicamente hostilizar todos os meus feitos.Verberar toda minha insignificância enaltecendo os deuses do passado com uma prostração incondicional.
Depois de macular os lençóis de seda, os travesseiros de bruma importadas, a cama de amores eternos, de intimidades invioláveis.
Depois de expor insensivelmente o que sempre ocultou meticulosamente e não decretar luto por alguém que te elevava ao Olimpo.
Depois de repugnar a mão estendida para teu socorro, as farpas retiradas com esmero, o zelo que consolava seus desafetos, os ouvidos que ouviam seus clamores, o coração que se esmigalhava com suas dores.
Depois de mostrar a insignificância de anos, de rotinas, de alegrias, de cumplicidades, de sofrimento, de compartilhamentos, de trocas.
Depois de se deitar ...
Depois de dividir...
Depois de ocultar...
Se pudesse fazer um pedido aos céus, um único, pediria por ti.
(Texto retirado do blog de Felipe Couto)
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