Mil e quinhentos reais... É o valor da vida? Ah, tudo bem se
você pensar no valor material, é
irrisório. Mas, não é bem assim. É mais ou menos como aquela propaganda que diz
que o valor sentimental não tem preço. Foi assim que aconteceu. A rua por onde
descia e cujo percurso fora trilhado tantas e tantas vezes, tinha um ar de desastre. uma premonição que antecede o mal feito. Era
cedo, a rua vazia, mas comumente estava. Era uma avenida solitária para
transeuntes como eu e no dito horário, mais ainda. O barulho da moto que antecedeu a abordagem o
cerco de dois elmos sobre a cabeça e, portanto não identificados, o susto
seguido da arma puxada e apontada sobre o peito e a ordem: Dá o celular.
Simples. Tantos casos assim... Afinal o que é um celular diante da vida. Assim
que pensava quando contavam relatos de roubos e por conta disso sabia como
proceder. Certamente não entendia como alguém se negaria a fazê-lo se
igualmente sabia o desastroso resultado. Simples. Só que não. Relutei. E não
foi porque pensei no valor de mil e
quinhentos reais... mas na minha lista do spotify, nos meus contatos, nos meus
escritos, nas fotos tão estimadas e raras porque não sou dado a cliques. Em
contraposição a perder minha vida era ela que estava entregando de bandeja para
aqueles que estavam interessados na quantia irrisória, certamente venderiam por
valor inferior ao de mercado... Naquela fração de segundos pensei em propor que
compraria meu próprio celular... A cena que se segue: Eu te dou o celular, mas
podemos negociar os arquivos que estão nele? Eu te pago. Só que não posso
perder minhas listas de favoritos do... O ponto de interrogação na cara dos
elmos, e o: vamos levar o celular e o dinheiro... Depois de tal conclusão achei
que não seria viável uma negociação nestes moldes. A vida se mede por tão pouco. E estava eu ali
relutando em entregar o que poderia custar minha vida.. Relutando porque nele
estava minha vida, minhas coisas, meus prazeres... A primeira coronhada não demorou muito. No
rosto. Certeira e dolorida. Seguido de: Você quer morrer? Perdeu, seu merda! Entrega logo ou vai morrer.
Entregue ao solo, minha relutância ainda integra, levantei o corpo que juro
nele já não habitava a razão. Ali acabaria tudo. Sim, acabaria, mas não sem
luta. Um homem não entrega tudo sem nada. Retirei o celular do bolso e o atirei
em direção ao solicitante. E tudo
aconteceu em segundos.... O levantar o girar o corpo rumo ao chão com uma perna estendida como uma alavanca pra derrubar
o oponente. O desequilíbrio do oponente o estampido da arma disparada e três
corpos no chão. O tiro não pegara em mim, constatei. Já não podia dizer isto do
que estava sobre a moto. Sangrava e gritava muito. Acho que quebrei a perna do
que estava com a arma, porque notei que ele se arrastava em direção ao outro
tentando ajuda-lo. A arma caíra distante
do mesmo e embora meu rosto sangrasse fruto da coronhada, entre nós, eu era o mais lúcido. Cadê meu celular? Estava
distante mais visível. Peguei-o ... Fui em direção ao revolver. Não era
prudente deixa-lo ali mesmo com os dois fora de combate. Milhões de pensamentos
passaram pela minha cabeça naquele instante. Socorria quem por um triz não me
esfumaçou do mundo? Pegava a arma e completava o que iniciado? Teria estes no
meu percalço o resto da vida.
Como um acontecimento
pode mudar toda sua vida. Ali estava eu numa situação nunca esperada... Com
toda trajetória da vida comprometida. Peguei a arma. Vi pavor na cara do elmo
que derrubara. Olhei o outro agonizante. Por favor, não faça isso. Tenho
família. Socorre meu amigo. Disse o que quebrei a perna com voz de
misericórdia. Me deu vontade de chuta-lo
até matar o desgraçado. Não o
baleado, o infeliz sangrava e gemia
muito e não tinha me batido. Joguei a arma no mato e disse: Você viu onde
joguei a arma. Eu vou chamar o Samu, você inventa sua história. E espero
sinceramente nunca mais ver sua cara. Mas, se vê-lo, espero que finja que não me conhece. E se
pensar em vingança ou algo pior e como desta vez não for bem sucedido eu vou
fazer você engolir esta arma. Não antes de me certificar que as balas vão estar
dentro da sua cabeça oca. Peguei o celular e saí a milhão... Meu coração estava
na boca. A adrenalina percorria todo meu corpo..Estava com medo, confuso,
eletrizado e apavorado tudo isso no
mesmo instante. Quando liguei para o Samu, no celular que fora o motivo de tudo,
disse: Tem dois rapazes que sofreram um
acidente de moto. Dei referência de onde estavam. E desliguei. As mãos tremendo como geléia.
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