Se
você ama sabe que a paixão é pura contravenção. E embora acredite piamente no
amor, o desejo da carne, sim, uma espécie de comichão que conduz-nos ao precipício, quando persistente, desafia toda nossa crença
sobre o assunto. Quer ver? Uma pessoa que tem princípios morais
firmemente estabelecidos dificilmente admitiria ser envolvida numa situação
amorosa extraconjugal, ainda, se suas diretrizes
indicam que o sexo antes do casamento é proibido não admitiria supor um enlace amoroso que ultrapassasse esta
barreira. Todavia, um homem experiente e
conhecedor da natureza humana, claro, sobretudo, inflamado de paixão, infringiria golpes precisos que romperiam
ainda que a duras penas toda sua inquestionável posição. De forma alguma isso
indicaria leviandade ou imoralidade, muito menos que seus princípios não eram
condizentes, apenas que temos uma disposição sexual ferrenha além daquilo que
podemos dar conta. E a inadmissão de não acreditar na possibilidade deixa-nos
sem defesa. Basta notar a quantidade de gravidezes indesejadas, doenças
sexualmente transmissíveis e traições que estremecem casamentos sólidos ou
relações que iam bem até esbarrarem numa imprevista paixão por um amigo, um
desconhecido, um colega de trabalho. Não seria exagerado consentir que estes
ladrões de corações motivados pelo desejo da carne ou por suas próprias ambições,
minam eficazmente aquilo que achava impossível de acontecer... Isso se dá
porque nossa atenção para o perigo está adormecida... Afinal porque estar em
alerta se a pessoa é agradável, é linda, é charmosa, é atraente e demonstra
desejo por você coisa que seu marido, namorado,
pretendente não demonstra... Pelo menos não da forma que este o faz. E quem
não gosta do que é bom? E quando foi dito que o que é bom representa perigo? Aquilo
que faz seu coração bombar mais forte, aquilo que o deixa sem ar, que lhe dá um
êxtase inebriante? Somos seres dependentes do amor e quando encontramos uma
fonte que nos dê aquilo que necessitamos, asseguro dizer que nem Deus, conseguiria impor guarida para devolver-lhe o juízo. Vai por terra sua própria vontade. Quando
sob o efeito da paixão você está submetido ao que ele lhe impõe sem indicativo
que o faça recuperar sua postura ilibada. A não ser que fuja. Talvez desejasse
fugir antes de todo envolvimento, porque fugir depois é apenas para muita dor. O
ditado prevenir para remediar é um santo remédio e deveria ser encarado para
situações em que notamos uma disposição para o erro que sobrevém a todos que
estão cônscios de nossa frágil postura diante dos prazeres impostos pela carne.
Por isto não deveríamos julgar as
pessoas que são levadas como peixe numa rede. Porque tanto aquele que lança a
rede como aquele que cai são movidos pela mesma força: a inebriante e
imperativa força da paixão.
OBS. Claro que há muito mais
envolvido e que merece consideração. Julgo que o fará.
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