Dez anos se passaram desde sua
estadia naquela cidade. Talvez por isto quando planejou seu retorno àquela
pequena cidadezinha o coração bateu mais forte. Nunca esquecera o baile de carnaval a fantasias que era
tradição ali. O sorriso emanou seu rosto quando lembrou da bebedeira... Humm,
aquela moça.. - fugidio em seus pensamentos... Aquilo tinha sido loucura. Depois da sua
separação vinha pensando muito no passado, nos momentos bons que vivera. A
vida dá uns saltos tão suicidas de vez enquanto, umas guinadas tão radicais que
em pensamentos ficamos a nos perguntar como paramos ali, daquele jeito. Aquela
noite fora uma destas... Não conseguia lembrar de nada do ocorrido. Apenas de
saltar da cama desesperadamente com aquela bela jovem do lado, mal tendo tempo
para se despedir. Seu ônibus sairia em meia hora. Ele não estava atrasado,
estava muito atrasado.
Seus pensamentos foram cortados por uma voz
que gritava seu nome... Armando, Armando, acorda! Já chegamos vai ficar aí morgando
ou vamos curtir a vida? Tirado de suas memórias abruptamente pelo amigo. – Você só pensa nisso, Alfredo? Disse ele, ao
se dar conta que estivera perdido em pensamentos por mais tempo que gostaria.
Ele e seu amigo tinham alugado a mesma casa,
de tempos idos. Queriam relembrar em pormenores o passado. O café da manha fora
divino, lembrara Alfredo ao comentar o passado. – Por isto, devemos ficar na mesma casa. Assegurou. O que foi consentido por Armando.
Depois de se ajeitarem e do
apreço pelo local. Armando resolveu fazer uma vistoria do que ainda era vívido
em sua mente. A mobília, a paisagem, o quadro da recepção que mostrava duas
crianças de mão dadas correndo para saída da casa e; quando atravessam a porta apareciam do outro lado já adultos. Nunca esquecera o quadro por isto. E lá estava ele. Um pouco
mais gasto pelo tempo, mas ainda em ótimo estado de preservação. Descrevia sua vida. Descrevia sua ideia de
tempo. Pegou seu celular... clicou por vários
ângulos. Pensou: imortalizada! E deu um pequeno sorriso antes de prosseguir na
sua lista de coisas a serem vistas.
Enfim a noite chegou... Alfredo
saíra para alugar as fantasias. Queriam as mesmas. Como dissera Alfredo: vamos fundo já que é para relembrar. A dele
de mágico: Mandrake. Um mágico dos quadrinhos que ele admirava. E a de Armando
a do homem aranha. Não que ele se identificasse, mas ficara tão ridículo e na época
tão descontraído, que não era seu feitio, que Alfredo queria isto para dar boas
risadas. Ambos
estavam decididos fazer da história de 10 anos atrás a mais parecida possível,
embora soubessem impossível. A lembrança daquela moça despontou em seus
pensamentos novamente...
Armando já não bebia tanto assim,
estivera internado durante meses para por tudo a perder por uma recordação. Alfredo
por sua vez estava por conta do tempo... Ia entornar todas, como não houvesse
amanhã. Dizia.
Vestidos a caráter agora só
esperavam dar meia noite. A tradição era
que o baile só começasse exatamente as zero horas. E só depois de todos assinarem o livro, que já continha
mais de 10 mil assinaturas desde que fora inaugurado, se podia entrar no salão.
Uma coisa chamou atenção de Armando quando fora assinar.. Reparou que seu nome
aparecia no cabeçalho da página. Assinou: Armando de Paula Silva. Omitiu
o e quando viu acima no cabeçalho: Armando de Paula e Silva. Bom, deixa pra lá,
pensou. Apenas uma casualidade.
As fantasias eram das mais variadas e o baile
como da outra vez, lotado. O fetiche de não saber quem ali estava e que rumo as
coisas tomariam quando ocultados por uma
máscara era deslumbrante. Quinze minutos
foram precisos para Alfredo aparecer enroscado com uma coelha muito bem feita
de corpo. Pela voz era jovem, humm, tá, e pelo belo corpo também, assentiu
Armando.
Armando era mais lento e só tagarelava
mandando cantadas para todas que achava interessante... Oi, como vai! Nossa que
cauda linda! Disse para uma vestida de dinossauro... Uau, cospe em mim que pego
fogo. Quem sabe assim meu coração não descongela? Disse para uma dragona. Ouviu sorrisinhos, mas
nada de parar para ficar ali com ele. Reparou um grupo com duas belas jovens
vestidas com roupas de época e uma mulher mais velha, talvez da sua idade,
acompanhada por um homem com roupa de lorde usando uma máscara do zorro. Os
olhares não eram casuais. Lembravam o olhar de sua mãe quando fazia algo errado. Bateu-lhe uma sensação estranha... Um
medo repentino. Como seu estado de prontidão ficasse alerta. Reparou que a dama mais velha saiu
apressadamente depois que seus olhos se cruzaram e logo atrás dela, após um
olhar recriminador o homem com máscara do zorro. Um espaço, por algum tempo, se abriu em sua cabeça. Que era aquilo que
tinha acontecido? Ele costumava ter
aquela sensação quando algo estava errado. E esta lacuna de tempo sempre vinha
quando precisava tomar decisões fortes. Era seu recurso de ouro, costuma dizer.
Desta vez, portanto iria ignorá-lo. Pelo amor de Deus, hoje não! Preciso de
sossego. Ah, que se dane, pensou. Estou sempre
preocupado com o que não deveria estar. Vamos a noite! E que venham as gurias e que
sejam muitas! Gritou, como para espantar os fantasmas que estavam por vir.
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