Do 14º andar do prédio onde estou, observo desconhecidos andando lá embaixo. Nada demais. É um vislumbre bem comum. Pessoas andando. Lá vão elas para para algum lugar que francamente não sei o destino. Estou observando-as sem elas notarem. Sinto-me privilegiado. Além das câmeras que agora ocupam toda região, meus
olhos captam a imagem. Algo naquela cena insípida de tão comum, vista em tantas outras ocasiões neste dia me chama atenção. O atravessar da rua de um jovem que entre os carros passa apressado, a mulher com sacolas que denunciam que esteve num mercado... O homem de blusa vermelho vivo puxando seu filho pela mão indo pra um destino qualquer ou quem sabe voltando para seu lar. A mistura das cores vistas lá de cima misturada com a dinâmica das pessoas pareceu-me tão bela. A continuidade da cena de cores e andares transmitiam uma peculiaridade. Ou talvez aquele dia meus olhos estivessem generosos e enxergavam por um prisma até então desconhecido. Cores, pessoas e carros, nada mais. Idas e vindas, destinos e obrigações. Eu mesmo estava ali a desígnio de uma obrigação só que hoje como observador e não como observado. Não sei ao certo o que naquele dia fez de uma cena tão comum motivo para atenção. Certamente, aquela não era uma cena que um jornalista ávido por uma boa notícia buscaria, nem tampouco seria digna de nota para um fotógrafo talentoso, ou mesmo um mediano. Entretanto fiquei ali inebriado inexplicavelmente. Talvez aí esteja a graça da vida. Não no fato de ver uma cena sem graça sendo descrita mas, em ver vivacidade e se sentir vivo. Buscar em coisas singelas, no cotidiano, num sorriso, numa palavra aquilo que possa ser interessante. Aquilo que possa abastecer uma cena aparentemente monótona em algo pujante, visto pelos olhos clínicos da peculiaridade e não com os olhos mornos da mesmice. Há uma energia impressionante que paira sobre tudo que se move. Pense na dinâmica de um formigueiro, no gorjear matutino dos pássaros, na frota de abelhas que sobrevoam lugares longínquos polinizando flores, disseminando vida. É tudo tão dinâmico. Se observarmos em tudo há uma explosão de energia. Desde um ser microscópico até o maior dos mamíferos. Vida em abundância. Mas, as vezes nossos olhos caem na normalidade, vemos as coisas como sem vida, como nada. Talvez naquele dia, naquele momento único, registrado pelo meus olhos de forma notável eu sentisse o poder de Deus. A
força motriz por trás de todas as coisas. Quem vai negar que o mundo é uma colosso de
energia misturada em ação, emoção e vivacidade! Embora tenhamos nossos lampejos de admiração o mundo é um fomento de energia em transformação.Nada no mundo é monótono. O mundo é um grande coração pulsante, livre, libertino, escancarado de vidas, gêneros e espécies. Não importa se uma cena corriqueira será captada decentemente por nossos olhos. Não importa se o canto de um pássaro pareça banal. Certo é que estas atividades incessantes anunciam e dignificam uma grandeza extraordinária. Um ser supremo. E como mero observador que sou que naquela fração do tempo observo lúdico uma cena tão comum, posso imaginar em cada canto do mundo, pessoas admiradas com cenas parecidas. Só posso concluir: É notável a força da crianção vista na simplicidade das coisas .
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