Vozes invadiam o quarto por todos os lados. Um burburinho a La
feira livre denunciava um acontecimento fora do comum. Ao fundo, ouvia-se o
arrebentar das ondas misturando-se como água e açúcar confundindo melodioso, vozes e o mar. Era o cheiro da vida
encurralando o homem da cidade convidando-o a viver. Diante do quadro nada lhe restava a não ser
sair do quarto do hotel que o aprisionava e abandonar qualquer pretensão que ainda tinha
de ali continuar. E um desprendimento quase estranho tomou-lhe resignando-o a
deixar o estigma da cidade para lá e misturar-se ao cheiro de gente que
irrefutável lhe flertava.
Às vezes é tão pouco
o que a gente precisa para fazer o coração pulsar numa nova batida, num ritmo
novo. Sim, isento da monotonia que tornou sua vida, que demarcou os espaços por onde deveria orlar seus sonhos.
É como um homem que perdido no mar já cansado de tanto nadar perde os sentidos
e de repente do nada, de súbito, tira forças não se sabe de onde para um último
fôlego que rompe os grilhões das águas que o estavam sufocando num limiar de
vida e morte tão sutil, tão gêmeo, que quase não se percebe a diferença. E ali,
naquele instante o coração ritmado retorna
com novas forças a vida que a pouco estava no limiar. E a vida que antes
parecia boa fica partida como um espelho trincado que deixa sua imagem turva.
A vida precisa de um chocolate, um sorvete, em meio a verduras,
legumes e integrais. A vida precisa daquele som, sim aquele burburinho, o convidando a viver, a se libertar do que te
faz pequeno, a sair da mesmice rotineira que faz a vida parecer tão sem graça.
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