Ela queria porque queria um cachorrinho.
Queria uma raça grande,que fosse manso, companheiro, e dócil. Logo um labrador. A família relutante
resistiu o quanto pode. Até que... enfim chegou o mais novo membro da família. Bonitinho, todos diziam.
Era amarelo e tinha os olhos verdes. Não era o que ela queria mas, no impasse do compra não compra, o que
escolhera já tinha sido vendido. Um pouco frustrada partiu para segunda opção. Acolheu bem o filhote com
cara de velhinho: todo enrugado, sonolento e faminto. No decorrer dos dias o assunto da casa. Cada dia uma
novidade. Afinal o reizinho governava. Mas, o tempo passa e roupas, fios elétricos, sapatos não resistiam
a voracidade de pré adolescentes caninos. Por isto e por outras, o bicho acabou amarrado. Os outros membros
da família não aprovaram, mas também não censuraram. Em dias futuros na sua nova conjunção o cachorro continuava
voraz, limitado sim, mas ainda arteiro e insaciável por bens moveis ao seu alcance, mastigável ou não. Reprovações
vinham, mas alguém mencionou que era coisa da raça. Era sim, mas a raça humana nem sempre sabe lidar com outras.
Certo dia notou-se que o bicho mancava. Ao olhar viram que ele se distraía mastigando sua própria pata. Aquilo tava
feio. Feio mesmo. Acendeu o alerta da família. Sintoma da tristeza e de estresse.
A dona parecia desencantada e pouco feliz como o reizinho. Não tão querido agora. Não queria suas coisas destruídas.
Nem ver o quintal todo sujo de coco, muito menos receber os pulos do brutamontes que quase a derrubava.
Então começou a parte triste da história. O bicho comendo sua própria pata atraiu um monte de carrapatos. E pra piorar
apanhava quando pulava sobre sua dona. Assim preso permaneceu, sem passeios, sem exercícios, num cantinho para não alcançar
as roupas no varal. Ela alegava que não dava pra passear com um bicho enorme daquele sem controle e deixar solto nem pensar.
O que era amor foi se transformando, transformando... Até o ponto de que o bicho agora era um estorvo indesejado.
Então veio a ideia de se desfazer do reizinho. A ideia era levá-lo no calar da noite num lugar longínquo e lá deixa-lo.
Com a certeza que logo alguém o pegaria e cuidaria dele bem melhor que ela.
Queria um cachorro menor que não desse tanto trabalho, pensou.
E assim o fez.
Triste história canina.
Talvez sentiu-se ultrajado com o desfecho. Abandonar um cachorro assim?
Mas, isso também acontece com pessoas. Abandonados quando mais precisam. Talvez seu motivo seja nobre com certeza. E, com
este novo pretendente muito diferente do que este, esqueça dos anos áureos, do seu passado feliz. Afinal ninguém vive de
passado. Este tornou-se um estorvo para sua felicidade. Empata foda, conforme dizem. Motivo mais que suficiente para a troca.
E, assim, o fez. Consciência tranquila e prontinha para um novo, mais agradável companheiro e, dócil.
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