E vi aquele corpo que não tinha rosto. Imediatamente acendeu a curiosidade. Sendo eu homem, certo pensar que aquele corpo era feminino.
Tinha forma mas não tinha feição. Era bonito, bem torneado, robusto que indicava
ser malhado, oposto do desmilinguido, não era franzino prova inconteste que se a natureza fora
generosa ela o aprimorara com a dedicação.
Só me fugia o rosto. O resto muito
bem observado. Não na essência mas na protuberância. Arquétipo desejável e arcabouço
bem elaborado, simétrico para qualquer juízo, sem aqueles questionamentos
superficiais: Prefiro as magras, pois de certa forma o era ou: eu prefiro as mais
cheinhas, pois inexplicavelmente também.
Escultural se a definição encaixar em: para qualquer gosto. Não que se
moldasse diante dos olhares mas que aos olhares se ajustava aquele
colosso. Mas, somos curiosos e o fato de
não enxergá-la causou um abscesso. Seria ela bela, embora belo fosse seu corpo?
Seria ela? Na forma antiga de definição?
E se não fosse nem uma coisa nem outra seria ainda tão estereotipada pelas ânsias masculinas... um
outro estereótipo que perdura contra estereótipos.
E as matutadas
continuaram com suas nuances martelando sobre mim: Fosse ela feia de rosto,
teria tanto apreço? E se nada disso fosse como seria? Como a veria? Que conceito
dela teria? Teria? Não teria? Ou seria como se visse um homem ali cujos olhos olham e não veem? Cujo instinto
ignora ao ver como se não visse. A não ser que algo além fizesse a atenção dar
atenção ao que normalmente não é dado. E
lá estava eu procurando nos acervos do
cerebelo alguma razão para esquecer aquele ser, que era meio ser e meio não ser.
Nenhum comentário:
Postar um comentário