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domingo, 5 de agosto de 2018

Um brinde aos homens que fecham as portas.



Era um dia difícil. Ele mal chegara  e fora chamado para ver o que tinha acontecido durante o jantar do dia anterior. Quando entrou no salão ficou chocado,  não acreditava na balburdia de cadeiras reviradas, mesas quebradas de pernas pro ar, pratos e talheres para tudo quanto é lado, vidraças estilhaçadas... 

Passado o susto ele fora imediatamente saber o que tinha acontecido.  A briga tinha sito feia,  dois rapazes tinham se atracado na frente dos meninos menores e o que estava com o rosto coberto de sangue pegou uma cadeira e investiu contra o outro.  Este, se não tivesse se abaixado  a briga teria terminado em tragédia, mas o outro se desvencilhou e o embate continuou... os guris menores como platéia. Aqueles que nunca tinham visto aquilo, estavam acocados segurando os joelhos  assustados o suficiente para ficarem paralisados  diante situação  enquanto  outros já tarimbados com eventos anteriores  agitados e instigados começaram a quebradeira.  Enfim, os adultos chegaram, mas não a ponto de impedirem o quebra,quebra.

 Ele ao chegar ao salão e vendo tudo de pernas pra cima não pode fazer nada. Sentiu-se impotente diante do acontecido. Irado com tudo que ouvira, chamou os rapazes envolvidos, soubera pela boca de quem tinha relatado os fatos e quem eram os envolvidos.  Obvio que pelo histórico de violência não se surpreendeu.  E sentiu aquele entorpecimento da alma que era peculiar quando as coisas chegavam a este ponto.

  Quantas e quantas vezes presenciara aquele comportamento e tantas outras pensou largar tudo e ir embora. Eram uns animais, pensara no seu momento de irreflexão.  Mas, depois pensava em tudo que aqueles guris  tinham passado, famílias desestruturadas,  pais alcoólatras, violentos e violadores e compreendia que não podia desistir de tudo aquilo. Não podia abandonar o barco. Deixar aquelas crianças ao destino da violência paga com violência. Sabia muito bem que a raiva, a violência era a linguagem que aprenderam e ao menos que algo fosse feito, não teriam muita chance fora dali.  

 Diante dos rapazes fora duro o suficiente para entenderem que não aceitaria que aquilo voltasse acontecer. Aprendera que a dureza  equivale a ser ouvido e que a punição com a violência nada resolve e piora as coisas, mas em contrapartida não poderia permitir que crianças mais novas fossem envolvidas com aquele tipo de ação. 

Teriam que pagar pelo prejuízo dado e teriam que conversar com cada criança sobre como era insensato o que tinham feito.  Enquanto explanava a punição, um bate boca entre os rapazes se iniciara naquele momento e aquele que estava mais machucado com o rosto todo inchado queria  revanche e o outro embora não demonstrasse tinha medo da retaliação. Ele com seu corpanzil se interpôs  entre os dois como fizera tantas vezes. Ele aprendera que a violência tem um encanto e seu encanto se não controlado era um recurso válido para resolver diferenças, mas depois quando a cabeça voltava a seu lugar  antigos demônios voltavam a  perturbar e para acalmá-los era requisitado mais violência, um ciclo interminável. 

Colocou-se firme entre eles e disse com  muita severidade que se queriam brigar brigariam com ele.   Mas, os rapazes sabiam que não era uma boa idéia já tinham presenciado rapazes mais audazes tentaram a sorte. Depois que ficara sozinho um abatimento forte, velho conhecido surgiu . Lembrou-se de uma ocasião em que um rapaz o atacara quando era censurado e ele precisou imobilizá-lo. O rapaz aos urros, esperneava feito bicho, xingando palavrões de toda natureza, mas ele não o soltara, ficou daquele jeito o que pareceu horas até que  sentiu a força do rapaz evadir-se até não ter mais resistência, naquele momento pensou o pior, achou que o tivesse matado e seu coração ficou de um modo que ele nunca mais sentira com aquela possibilidade, mas na sua tribulação e nos seus clamores a Deus, começou a ouvir os soluços de um choro ressentido. Depois daquele dia o rapaz mudou completamente seu comportamento.   Aquilo fora a pista que precisava para  saber que violência não era solução para nada e que ali era seu lugar, ajudando quem precisava e não importava o quão indomável parecessem  ele sabia que aquelas crianças precisavam dele. Lembrou-se daqueles que após anos retornarem  com suas famílias só  para agradecê-lo por não ter desistido deles. 

Ele sabia deste então que ele como tantos outros eram aqueles que fechavam a porta quando ninguém mais queria ficar. Pegou seu copo de vinho que ainda era um dos seus poucos vícios e lembrou que em todas as partes do mundo havia pessoas como ele, que eram possuídos por uma força maior que os impulsionavam a ajudar outros quando ninguém mais acreditava, quando a própria sociedade os declarava como sem solução.

 E brindou sozinho como se não  estivesse. Como se tivesse acompanhado de  uma cúpula de todos aqueles que nunca desistem de outro ser humano. Um brinde aos homens que fecham as portas.

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