Era um dia difícil. Ele mal chegara e fora chamado para ver o que tinha acontecido
durante o jantar do dia anterior. Quando entrou no salão ficou chocado, não acreditava na balburdia de cadeiras
reviradas, mesas quebradas de pernas pro ar, pratos e talheres para tudo quanto
é lado, vidraças estilhaçadas...
Passado o susto ele fora imediatamente saber o
que tinha acontecido. A briga tinha sito
feia, dois rapazes tinham se atracado na
frente dos meninos menores e o que estava com o rosto coberto de sangue pegou
uma cadeira e investiu contra o outro. Este, se não tivesse se abaixado a briga teria terminado em tragédia, mas o
outro se desvencilhou e o embate continuou... os guris menores como platéia.
Aqueles que nunca tinham visto aquilo, estavam acocados segurando os joelhos assustados o suficiente para ficarem
paralisados diante situação enquanto outros já tarimbados com eventos anteriores agitados e instigados começaram a quebradeira.
Enfim, os adultos chegaram, mas não a
ponto de impedirem o quebra,quebra.
Ele ao chegar ao salão e vendo tudo de
pernas pra cima não pode fazer nada. Sentiu-se impotente diante do acontecido.
Irado com tudo que ouvira, chamou os rapazes envolvidos, soubera pela boca de
quem tinha relatado os fatos e quem eram os envolvidos. Obvio que pelo histórico de violência não
se surpreendeu. E sentiu aquele
entorpecimento da alma que era peculiar quando as coisas chegavam a este ponto.
Quantas e quantas vezes presenciara
aquele comportamento e tantas outras pensou largar tudo e ir embora. Eram uns
animais, pensara no seu momento de irreflexão.
Mas, depois pensava em tudo que aqueles guris tinham passado, famílias desestruturadas, pais alcoólatras, violentos e violadores e
compreendia que não podia desistir de tudo aquilo. Não podia abandonar o barco.
Deixar aquelas crianças ao destino da violência paga com violência. Sabia muito
bem que a raiva, a violência era a linguagem que aprenderam e ao menos que algo
fosse feito, não teriam muita chance fora dali.
Diante dos rapazes fora duro o suficiente para entenderem que não
aceitaria que aquilo voltasse acontecer. Aprendera que a dureza equivale a ser ouvido e que a punição com a
violência nada resolve e piora as coisas, mas em contrapartida não poderia
permitir que crianças mais novas fossem envolvidas com aquele tipo de ação.
Teriam que pagar pelo prejuízo dado e teriam que conversar com cada criança
sobre como era insensato o que tinham feito.
Enquanto explanava a punição, um bate boca entre os rapazes se iniciara
naquele momento e aquele que estava mais machucado com o rosto todo inchado
queria revanche e o outro embora não
demonstrasse tinha medo da retaliação. Ele com seu corpanzil se interpôs entre os dois como fizera tantas vezes. Ele
aprendera que a violência tem um encanto e seu encanto se não controlado era um
recurso válido para resolver diferenças, mas depois quando a cabeça voltava a
seu lugar antigos demônios voltavam a perturbar e para acalmá-los era requisitado
mais violência, um ciclo interminável.
Colocou-se firme entre eles e disse
com muita severidade que se queriam
brigar brigariam com ele. Mas, os rapazes
sabiam que não era uma boa idéia já tinham presenciado rapazes mais audazes
tentaram a sorte. Depois que ficara sozinho um abatimento forte, velho conhecido
surgiu . Lembrou-se de uma ocasião em que um rapaz o atacara quando era
censurado e ele precisou imobilizá-lo. O rapaz aos urros, esperneava feito
bicho, xingando palavrões de toda natureza, mas ele não o soltara, ficou
daquele jeito o que pareceu horas até que sentiu a força do rapaz evadir-se até não ter
mais resistência, naquele momento pensou o pior, achou que o tivesse matado e seu coração ficou de um modo que ele nunca mais sentira com aquela possibilidade, mas na sua tribulação e nos seus clamores a Deus, começou a ouvir os soluços de um choro ressentido. Depois
daquele dia o rapaz mudou completamente seu comportamento. Aquilo
fora a pista que precisava para saber
que violência não era solução para nada e que ali era seu lugar, ajudando quem precisava e não importava o quão indomável
parecessem ele sabia que aquelas crianças precisavam dele. Lembrou-se
daqueles que após anos retornarem com suas famílias só para agradecê-lo por não ter
desistido deles.
Ele sabia deste então que ele como tantos outros eram aqueles
que fechavam a porta quando ninguém mais queria ficar. Pegou seu copo de vinho
que ainda era um dos seus poucos vícios e lembrou que em todas as partes do
mundo havia pessoas como ele, que eram possuídos por uma força maior que os
impulsionavam a ajudar outros quando ninguém mais acreditava, quando a própria
sociedade os declarava como sem solução.
E brindou sozinho como se não estivesse. Como se tivesse acompanhado de uma cúpula de todos aqueles que nunca desistem
de outro ser humano. Um brinde aos homens que fecham as portas.
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