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segunda-feira, 27 de junho de 2016

Pedacinhos de São Paulo





Meu sangue circula nesta cidade  de concreto bruto de espessuras monumentais, de sangue frio como de cobra, de obras como o Masp feio pra caramba,  sem expressividade nenhuma por fora, mas que por dentro mexe com a cabeça de  muitas pessoas que passam pelo crivo de sua arquitetura medíocre; das muitas e conhecidas avenidas badaladas, do edifício Itália que se sobressai em altura dos demais e que na minha infância,  uma simples entrada ali seria a concretização de um  sonho.  As entranhas do velho centro não são bonitas, aliás, são medonhas, um contraste do belo e do horrendo.  Sou genuíno de nascimento, concebido na brigadeiro Luiz Antonio, isso diz muito, porque destrincho o centro como poucos... As bibocas, as nobres, as conhecidas ruas. Não tenho saudade destes lugares que dei muitas pernadas.   Curioso que sinto saudade de lugares que  pouco fui,  meio que de passagem  e talvez por isto criaram esta  ânsia pelo desconhecido,  pela cidade que foi meu berço.  Lugares que desejo conhecer pelo dito nas revistas... O Antro de sabores, da média e alta sociedade, lugares badalados cheios de glamour, comidas excêntricas de nomes estranhos, sabores lidos, mas nunca desfrutados e uma nostalgia do que poderia ser... Do que poderia  ser vivido e conhecido com a pessoa amada, dos bistrôs e restaurantes, bares restaurantes com seus cardápios extravagantes, caros e apetecíveis. Acho que meu coração está entrelaçando desejos carnais a sonhos hollywoodianos, sim, a fantasia vendida em prateleiras  cheia de variedades quiméricas, o encantamento do sucesso estribado em ambientes lúdicos, freqüentado por pessoas bem sucedidas com chefs criando sabores provocantes e que aguçam a sensação de precisar provar. De se ver ali naquela euforia de pedidos feitos constantemente, burburinhos e conversas paralelas inaudíves; confusas. A beleza explodindo em rostos saudáveis. Só não sei ao certo de onde vem esta vontade nostálgica de um lugar que nunca conheci, conhecer no sentido de se  debruçar num balcão e pedir uma cerveja, um chope ou quem sabe uma mistura exótica criada ali naquele momento, afinal ali parece que tudo se pode, tudo combina... Um dos motivos talvez seja estar num ambiente  que seria  o marco entre o que fui e o que sou. Aquela sensação de superação em que você diz: agora eu posso e... Mereço... Algo para  consolidar uma identidade alcançada mas nunca vivida, o despojo, o banho para se livrar do resto do passado que precisa  insistente  de um marco libertador. Ou quem sabe esta inserção seja pela necessidade de estar onde se sonha o amor. Largo do Batata, tão destacado por aqueles que alimentam sonhos, e estômagos... Ou quem sabe o encontro do menino com o homem como se  num passe de mágica se abrisse o portal para o encontro do presente e do passado e ali  se olhassem como dois estranhos que têm  a certeza de se conhecerem porém ainda estranhos pelo que sonharam. Aquele menino estranhando o que se tornou e o homem desdenhando do que ele foi. Quem sabe um debate, uma afronta, um abraço conciliador e enfim a despedida, certos que desfrutam do mesmo DNA, e inquestionavelmente  são a mesma pessoa, mas que por alguma razão prodigiosa do caminho vivido,   dois estranhos.  

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