someone lyke you

domingo, 12 de outubro de 2014

Disparate



Um dia conversava com uma moça que acabara de conhecer. Ela dizia:   Não sei  como alguém  pode  não ter um carro. Eu não tinha. Senti-me mal  quando aquelas palavras desceram pela minha garganta como se tivesse tomado algum tipo de remédio amargo. O fato de não ter  parecia uma aberração como não ter uma perna, ou não ter sei lá, alguma parte essencial do corpo. Despistei. Não me lembro como respondi, mas provavelmente  menti, algo como:    Pretendo comprar. Estou ajuntando para  comprar um carro zero.. Sei lá.  Hoje talvez diria: Da mesma forma que é inadmissível  alguém não ter um pedaço de pão. Sim,  um simples pedaço de pão para saciar a  fome. Talvez a pessoa que não tem, me olharia desnorteada. Afinal há quem se indigne com o fato de   alguém  não ter um carro ou um pedaço de  pão.  Pode parecer aberração, mas entre uma coisa e outra parece fútil imaginar   que há pessoas  que não imaginam alguém não ter um carro quando lhe falta o  pão. E como tem. Embora seja inadmissível. Imagino um pai, cuja família se alargou demais. Os frutos sagrados ultrapassaram a cota da sustentabilidade. O salário apertado que mal da para as despesas mais simples e,  sobre a mesa, além das moscar famintas não há mais nada. E viável que em vários cantos do mundo encontre pessoas nestas condições e que jamais  sonhariam com a possibilidade de um carro, que para muitos é uma necessidade  indispensável, estacionada na garagem, Por sinal,  sonham como uma mesa farta, onde o filho para encher a barriga não  tivesse que tomar água. Mas, enfim a desigualdade social é uma realidade doída de aceitar. Talvez o governo pensando neta dicotomia tenha criado seus planos de assistência para diluir um pouco estas diferenças. Mas a idéia do carro perambula mentes juvenis, motivadas por filmes de Hollywood  e a ascensão ainda que entre a escolha entre o pão e o carro, seja estapafúrdia, é bem atraente.  Então a concepção da idéia carro versus pão torna-se realidade. E as ditas palavras reverberam como o som da flauta ludibriando a fome ; ou  o governo,  como queira. Claro que a cogitação da idéia da troca do pão pelo carro nem é concebível em lugares do mundo em que ter um carro é tão desnecessário quanto ter roupa de marca. E onde a fome não é apagada pelas luzes de neon de cartazes com uma oferta de um modelo do ano completo.

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