Um dia conversava com uma moça que
acabara de conhecer. Ela dizia: Não sei como alguém pode não ter um carro. Eu não tinha. Senti-me
mal quando aquelas palavras desceram
pela minha garganta como se tivesse tomado algum tipo de remédio amargo. O fato
de não ter parecia uma aberração como
não ter uma perna, ou não ter sei lá, alguma parte essencial do corpo. Despistei.
Não me lembro como respondi, mas provavelmente menti, algo como: Pretendo comprar. Estou ajuntando para comprar um carro zero.. Sei lá. Hoje talvez diria: Da mesma forma que é inadmissível alguém não ter um pedaço de pão. Sim, um simples pedaço de pão para saciar a fome. Talvez a pessoa que não tem, me olharia
desnorteada. Afinal há quem se indigne com o fato de alguém não ter um carro ou um pedaço de pão. Pode parecer aberração, mas entre uma coisa e
outra parece fútil imaginar que há
pessoas que não imaginam alguém não ter
um carro quando lhe falta o pão. E como
tem. Embora seja inadmissível. Imagino um pai, cuja família se alargou demais.
Os frutos sagrados ultrapassaram a cota da sustentabilidade. O salário apertado
que mal da para as despesas mais simples e, sobre a mesa, além das moscar famintas não há
mais nada. E viável que em vários cantos do mundo encontre pessoas nestas
condições e que jamais sonhariam com a
possibilidade de um carro, que para muitos é uma necessidade indispensável, estacionada na garagem, Por
sinal, sonham como uma mesa farta, onde
o filho para encher a barriga não tivesse que tomar água. Mas, enfim a desigualdade
social é uma realidade doída de aceitar. Talvez o governo pensando neta dicotomia
tenha criado seus planos de assistência para diluir um pouco estas diferenças.
Mas a idéia do carro perambula mentes juvenis, motivadas por filmes de Hollywood
e a ascensão ainda que entre a escolha
entre o pão e o carro, seja estapafúrdia, é bem atraente. Então a concepção da idéia carro versus pão
torna-se realidade. E as ditas palavras reverberam como o som da flauta
ludibriando a fome ; ou o governo, como queira. Claro que a cogitação da idéia da
troca do pão pelo carro nem é concebível em lugares do mundo em que ter um
carro é tão desnecessário quanto ter roupa de marca. E onde a fome não é
apagada pelas luzes de neon de cartazes com uma oferta de um modelo do ano
completo.
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