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domingo, 21 de julho de 2013

Ida ao cabeleireiro avarento




Um final de dia comum, véspera de feriado. Eu precisava cortar o cabelo.  Como saíra tarde  do serviço  precisava  acelerar  pra chegar ao  salão a tempo de ainda pegá-lo aberto.Não  deu. Estava resolvido que cortaria o cabelo naquele dia, não  estava  afim de perder a viagem. Lembrei-me de outro salão, um pouco a frente de onde eu estava e rapidamente me dirigi a ele. E, mesmo sem conhecer resolvi que cortaria ali, isso se o salão ainda estivesse aberto.  Sorte estava.  Havia 3 pessoas  fora aqueles que cortavam. Uma senhora e um casal de crianças, o que conclui que logo seria atendido. Realmente não estava disposto a voltar pra casa sem cortar o cabelo. Perguntei se ainda poderia cortar. O cabeleireiro mais velho que  julguei ser o mais indicado logo respondeu  apontando para o mais novo que este,  ainda teria horário... Estava um silencio gostoso, na televisão  uma cena da novela parecia prender atenção. A mulher, com suas duas crianças, pedia silêncio para que ela pudesse entender o que acontecia. Seu filho, todavia,  parecia não estar muito interessado naquilo e inquieto saltitava entre uma cadeira e outra, até que entre um comercial e outro, a mulher entretida, resolvera com firmeza aquietá-lo, o que realmente agradeci.
O rapaz que fora indicado para cortar meu cabelo parecia eficaz, deduzi isso observando  o corte do cliente a minha frente.  Na outra poltrona o cabeleireiro mais  velho e que pude notar ser o mais requisitado  se dividia entre os várias ligações de clientes ansiosos a procura de vaga para cortarem seus cabelos ( talvez no mesmo afã  que o meu), recusava as propostas alegando ainda ter muitos para atender e que não poderia atender mais ninguém aquele dia.
Enfim chegou minha vez.
Sentei ajeitando-me como de praxe, como se faz quando se senta numa cadeira de cabeleireiro. O jovem cabeleireiro não parecia no melhor dos seus dias, foi denunciado pelo funga, funga irritante que me fez de imediato pensar se tinha feito uma boa escolha ter persistido em cortar o cabelo ali.  Pensei:  o que estou fazendo aqui. Veio-me numa reprise alarmante que poderia pegar um resfriado gratuitamente porque de alguma forma o irresponsável do guri, resolvera trabalhar naquele estado.  Relutei para não sair dali, mas como o que estava em voga era o cabelo,  desisti de uma fuga patética daquela situação nauseante.  Pode parecer frescura, mas pensei nos mais de 200 agentes virais oportunistas que só estavam esperando um respingo para se refestelarem no meu corpo que aparentemente parecia mais íntegro  do  que o do pobre rapaz funga, funga. Sem contar no  influenza que ganhara status de vírus da gripe comum para assassino.  Confesso estava totalmente  desconfortável ao imaginar  que ao sair dali pudesse não só estar mais leve por conta dos cabelos deixados, mas com um vírus afamado por conta das vítimas recentes.  Numa de suas repetitivas fungadas e tosses irritantes uma das gotículas viscosas pareceu  descer além do esperado o que estremeci visivelmente. Minha reação obrigou o temido jovem cabeleireiro resfriado ir ao banheiro para se recompor.  Assim que voltou do banheiro avançou para um rolo de papel que estava acomodado familiarmente  na bancada onde ficavam outros apetrechos profissionais do manente. Neste instante, o outro, o mais velho que fazia o papel secundário de atendente de telefone, começou reclamar:   Você usou um rolo inteiro de papel, que isto?  Está pensando que dinheiro cai do céu... O rapaz tentou retrucar alegando seu estado. O que não abalou o falastrão, reclamão e constrangedor patrão. O homem desancou a fazer um discurso sobre os 48 rolos de papel higiênico que comprara no mês e que fora insuficiente. E que morreria de trabalhar só para comprar papel higiênico. E  que isso seria impossível já que  seus clientes sovinas viviam reclamando do  preço do corte de cabelo. Continuou: Deveriam ter nascido mulheres para deixarem o salário todo no salão com a pretensão de que assim veriam  que o que ele cobrava era irrisório. Aproveitando sua insatisfação com o gasto exorbitante pelo outro  que trabalhava doente, estendeu-se a falar da burrice das pessoas que se empenhavam em ganhar dinheiro fácil com o tal do Telex free, demonstrando sua descrença e ressaltando a ingenuidade das pessoas que perdiam seu tempo e dinheiro num investimento que segundo ele,  se fosse bom, não seria dividido. O homem não parou mais de falar. Cheguei a conclusão que  os dezessete reais que ele cobrava eram realmente irrisório. E que em outra circunstância pagaria o dobro só pra não ouvi-lo falar.   Saí de lá com a sensação que nunca mais volto e tenho a impressão que o rapaz , se  pudesse,  faria o mesmo.

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