Ele era um tremendo azarado. Toda
vez que encontrava com ela parecia que algo estava errado: ou não tinha
escovado os dentes pela manhã e assim qualquer
diálogo estava comprometido. (Afinal ele não se atreveria a soltar um bafão na
cara dela e correr o risco de perdê-la pra sempre...) Ou noutro dia era o
desodorante que esquecera, pensou: caceta, parece brincadeira!: Quando estava impecável ela não
aparecia. Quando aparecia sempre havia alguma coisa esquecida. Num sábado foi o
pingo da água. Ele levantara e precisava levar seu exame de fezes para o laboratório. Correu pra
pegar o ônibus com o potinho de M... cuidadosamente ocultado num saquinho de mercado...Um? Não, por
segurança colocara 3 saquinhos bem fechados. Pagou a passagem com aquela embalagem que por
mais que não inalasse cheiro algum ele não
deixava de sentir o cheiro..Foi então para
o fundo do ônibus , cuidando em não
levantar o braço para evitar qualquer cheiro . E quem avistou? Lá estava ela,
linda, maravilhosa, num shortinho que estava
próximo do irresistível, uma
blusa de oncinha, destas meio larguinhas, que a deixara especialmente sexy. Quando
ela o viu, foi imediatamente fazendo um
gesto para o saquinho que ele levava e perguntou: “’ O que tens aí?´’Na hora
ele bambeou as pernas, engoliu a seco como se a língua travasse na boca dando um
nó nas tripas e mudo, um rubor subiu-lhe pernas abaixo e instalou-se
no seu rosto, e o máximo que conseguiu
fazer foi esposar um sorriso sem graça. Um
misto de gagueira com tremedeira apoderou-se dele, e qualquer pessoa que o
observasse naquele momento saberia que naquele saquinho havia algo no mínino
suspeito. Seria um bomba? Seria um animal morto? Uma cueca suja?Um par de meias imundo?.. Podia
ser qualquer coisa escabrosa, mas desejou que jamais imaginassem um exame de
fezes....Desejou nunca ter subido naquele ônibus. E sobre a pergunta, não conseguia balbuciar nenhum comentário que pudesse revelar o que escondia. Durante a viagem, sua mão
permanecia estática como se ali houvesse algum mal que pudesse contaminar o
ônibus todo e a mão que segurava a M...
parecia inútil, pois não queria mexê-la para evitar que o cheiro de alguma forma
invadisse o ônibus..(Aquele ditado: quanto mais mexe mais cheira) Temia a olhos
vistos que de repente alguém fizesse um comentário sobre um cheiro de M... Temia ainda mais, com a possibilidade dela pedir para segurar o
saquinho... Imagina só! Ele que evitava um diálogo quando não escovava os
dentes ou se sentia constrangido pela falta do desodorante ou barba feita,
agora estava a ponto dela segurar sua M... Não. Não, definitivamente o destino
conspirava contra ele.
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