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domingo, 28 de outubro de 2012

O azarado


Ele era um tremendo azarado. Toda vez que encontrava com ela parecia que algo estava errado: ou não tinha escovado os dentes pela manhã e  assim qualquer diálogo estava comprometido. (Afinal ele não se atreveria a soltar um bafão na cara dela e correr o risco de perdê-la pra sempre...) Ou noutro dia era o desodorante que esquecera, pensou: caceta, parece brincadeira!:  Quando estava impecável   ela não aparecia. Quando aparecia sempre havia alguma coisa esquecida. Num sábado foi o pingo da água. Ele levantara e precisava levar seu  exame de fezes para o laboratório. Correu pra pegar o  ônibus com  o potinho de M... cuidadosamente ocultado  num saquinho de mercado...Um? Não, por segurança colocara 3 saquinhos bem fechados.  Pagou a passagem com aquela embalagem que por mais que não inalasse cheiro algum  ele não deixava de sentir o cheiro..Foi  então para  o fundo do ônibus , cuidando em não levantar o braço para evitar qualquer cheiro . E quem avistou? Lá estava ela, linda, maravilhosa, num shortinho que estava  próximo  do irresistível, uma blusa de oncinha, destas meio larguinhas, que a deixara especialmente sexy. Quando ela o viu, foi imediatamente  fazendo um gesto para o saquinho que ele levava e perguntou: “’ O que tens aí?´’Na hora ele bambeou as pernas, engoliu a seco como se a língua travasse na boca dando um nó nas tripas e mudo,   um rubor subiu-lhe pernas abaixo e instalou-se no seu rosto,  e o máximo que conseguiu fazer foi esposar um sorriso sem graça.  Um misto de gagueira com tremedeira apoderou-se dele, e qualquer pessoa que o observasse naquele momento saberia que naquele saquinho havia algo no mínino suspeito. Seria um bomba? Seria um animal morto? Uma  cueca suja?Um par de meias imundo?.. Podia ser qualquer coisa escabrosa, mas desejou que jamais imaginassem um exame de fezes....Desejou nunca ter subido naquele ônibus.  E sobre a pergunta,  não conseguia balbuciar  nenhum comentário que pudesse revelar  o que escondia.  Durante a viagem,  sua  mão permanecia estática como se ali houvesse algum mal que pudesse contaminar o ônibus todo  e a mão que segurava a M... parecia inútil, pois não queria mexê-la  para evitar que o cheiro de alguma forma invadisse o ônibus..(Aquele ditado: quanto mais mexe mais cheira) Temia a olhos vistos que de repente alguém fizesse um comentário sobre um cheiro de M...   Temia ainda mais,  com a possibilidade dela pedir para segurar o saquinho... Imagina só! Ele que evitava um diálogo quando não escovava os dentes ou se sentia constrangido pela falta do desodorante ou barba feita, agora estava a ponto dela segurar sua M... Não. Não, definitivamente o destino conspirava contra ele.

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