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domingo, 19 de agosto de 2012

A morte de Lobinho



Lembrei-me de lobinho numa situação um tanto inusitada. Pensava  numa moça cuja vida parecia exemplar,  boa dona de casa, boa esposa,  boa mãe, boa profissional . Sua vida parecia boa, lógico,  como todas as vidas guardam suas frustrações, a dela não era diferente, afinal quem nunca teve um projeto que não levou em frente e que se pudesse voltar ao passado o retomaria. Nós temos uma noção de tempo muito pessoal,  me ative a uma frase lida: se um projeto de anos lhe parece longo por demais, saiba que os estes anos passarão você tendo investido neles ou não, rsrrs. Interessante.  Mas, pra ela parecia tarde. E aquela frustração parecia lhe incomodar.  Tentei imaginar o que estaria errado, associei com outros conceitos, fiz perguntas pertinentes.  Era, óbvio que tinha a ver com o estado do seu coração, o tal do tanque emocional, tão aclamado em nossos dias... Embora tudo parecia perfeito a sua volta, seu instinto  reclamava a falta de alguma coisa e convenhamos, há muitos riscos quando agimos  por instinto. Lobinho era um cachorro que criamos desde que nasceu, seu nome foi dado pela sua semelhança com seus parentes distantes , o lobo, lógico. Rsrsr. Lobinho era muito versátil na caça e diferenciado , para usar um termo hoje muito comum,  estou moderninho hoje..Rsrs.. Lembro-me que ao vê-lo saltar sobre o mato, a procura da caça,  parecia mais um canguru saltitante. Era lindo de ver. Um dia planejamos uma caça, costumávamos caçar animais de médio porte como: lagartos, gambás.  Fazíamos uma armadilha que consistia  em pegar uma árvore  verde que tivesse boa envergadura, descê-la até o chão e colocar um naco de toucinho defumado junto a armadilha, preparada convenientemente,  para que quando o toucinho fosse tocado a corda laçasse  o pescoço do ladrão e a arvore voltasse a sua posição original, decretando assim a morte do bicho.  Fomos a uma distancia considerável, onde sabíamos que o resultado seria garantido, montamos a armadilha... Depois voltamos para nossas casas. Estávamos ansioso em retornar ao local que combinamos seria depois de 1 dia... No dia marcado notamos que Lobinho tinha sumido, procuramos, perguntamos pros amigos se o tinham visto e nada. Ficamos desesperados por não achá-lo. Mas, tínhamos que ir ver se a caça tinha sido bem sucedida, então assim fizemos.  Embrenhamos-nos mata adentro e logo achamos o local da armadilha, o bicho pego, parecia maior do que o comum, mas quando chegamos perto o suficiente para vermos o que tinha sido caçado, caímos em pranto. Era o Lobinho.  Em algum momento o cheiro do toucinho ativou seu instinto e ele voltou ao local da armadilha para saboreá-lo. Foi fatal.  Fizemos tudo direitinho, armadilha perfeita,  local apropriado, só esquecemos do instinto canino, não imaginávamos que  nosso animal de estimação que tanto amávamos iria ser a vítima. Instinto!  Um subterfúgio da sobrevivência, um estado de alerta? Imagino que o marido da moça se soubesse como preencher esta lacuna ele logo o faria, assim como nós se soubéssemos que sem desejar estávamos levando nosso cachorro a morte, jamais o teríamos levado. Às vezes a falta do conhecimento do que está acontecendo nos deixa vulneráveis,  é como se tivéssemos tudo e não tivéssemos nada . Nosso tanque emocional está vazio.  Estamos à deriva e se não tivermos o conhecimento, o instinto nos levará ao precipício. Então como evitar a morte do Lobinho? O diálogo, a reflexão.  Por dias sentei-me solidário tentando entender onde tinha errado, porque me concentrei apenas nos resultados e porque, Deus,  não pensei que o cachorro voltaria lá. Acho que no caso da moça, ele não tem encontrado ouvidos acolhedores e o marido anda preocupado com outras coisas que ele ache  essencial pra manter sua família. Uma situação bem difícil , mas por incrível que pareça bem corriqueira. Acontece todos os dias, em todos os lugares. O efeito lobinho está em todas as situações em que descuidamos de nossos entes queridos e absortos em nosso hedonismo inconsciente ou compromissos que julgamos acima de tudo, acabamos pondo tudo a perder.

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