Lembrei-me de lobinho numa situação um tanto
inusitada. Pensava numa moça cuja vida parecia
exemplar, boa dona de casa, boa
esposa, boa mãe, boa profissional . Sua
vida parecia boa, lógico, como todas as
vidas guardam suas frustrações, a dela não era diferente, afinal quem nunca
teve um projeto que não levou em frente e que se pudesse voltar ao passado o
retomaria. Nós temos uma noção de tempo muito pessoal, me ative a uma frase lida: se um projeto de
anos lhe parece longo por demais, saiba que os estes anos passarão você tendo
investido neles ou não, rsrrs. Interessante.
Mas, pra ela parecia tarde. E aquela frustração parecia lhe
incomodar. Tentei imaginar o que estaria
errado, associei com outros conceitos, fiz perguntas pertinentes. Era, óbvio que tinha a ver com o estado do seu
coração, o tal do tanque emocional, tão aclamado em nossos dias... Embora tudo
parecia perfeito a sua volta, seu instinto reclamava a falta de alguma coisa e
convenhamos, há muitos riscos quando agimos por instinto. Lobinho era um cachorro que
criamos desde que nasceu, seu nome foi dado pela sua semelhança com seus
parentes distantes , o lobo, lógico. Rsrsr. Lobinho era muito versátil na caça
e diferenciado , para usar um termo hoje muito comum, estou moderninho hoje..Rsrs.. Lembro-me que ao
vê-lo saltar sobre o mato, a procura da caça,
parecia mais um canguru saltitante. Era lindo de ver. Um dia planejamos
uma caça, costumávamos caçar animais de médio porte como: lagartos,
gambás. Fazíamos uma armadilha que
consistia em pegar uma árvore verde que tivesse boa envergadura, descê-la até
o chão e colocar um naco de toucinho defumado junto a armadilha, preparada
convenientemente, para que quando o
toucinho fosse tocado a corda laçasse o
pescoço do ladrão e a arvore voltasse a sua posição original, decretando assim
a morte do bicho. Fomos a uma distancia
considerável, onde sabíamos que o resultado seria garantido, montamos a
armadilha... Depois voltamos para nossas casas. Estávamos ansioso em retornar
ao local que combinamos seria depois de 1 dia... No dia marcado notamos que
Lobinho tinha sumido, procuramos, perguntamos pros amigos se o tinham visto e
nada. Ficamos desesperados por não achá-lo. Mas, tínhamos que ir ver se a caça
tinha sido bem sucedida, então assim fizemos.
Embrenhamos-nos mata adentro e logo achamos o local da armadilha, o
bicho pego, parecia maior do que o comum, mas quando chegamos perto o
suficiente para vermos o que tinha sido caçado, caímos em pranto. Era o
Lobinho. Em algum momento o cheiro do
toucinho ativou seu instinto e ele voltou ao local da armadilha para
saboreá-lo. Foi fatal. Fizemos tudo
direitinho, armadilha perfeita, local
apropriado, só esquecemos do instinto canino, não imaginávamos que nosso animal de estimação que tanto amávamos
iria ser a vítima. Instinto! Um subterfúgio
da sobrevivência, um estado de alerta? Imagino que o marido da moça se soubesse
como preencher esta lacuna ele logo o faria, assim como nós se soubéssemos que
sem desejar estávamos levando nosso cachorro a morte, jamais o teríamos levado.
Às vezes a falta do conhecimento do que está acontecendo nos deixa
vulneráveis, é como se tivéssemos tudo e
não tivéssemos nada . Nosso tanque emocional está vazio. Estamos à deriva e se não tivermos o
conhecimento, o instinto nos levará ao precipício. Então como evitar a morte do
Lobinho? O diálogo, a reflexão. Por dias
sentei-me solidário tentando entender onde tinha errado, porque me concentrei
apenas nos resultados e porque, Deus, não
pensei que o cachorro voltaria lá. Acho que no caso da moça, ele não tem
encontrado ouvidos acolhedores e o marido anda preocupado com outras coisas que
ele ache essencial pra manter sua
família. Uma situação bem difícil , mas por incrível que pareça bem
corriqueira. Acontece todos os dias, em todos os lugares. O efeito lobinho está
em todas as situações em que descuidamos de nossos entes queridos e absortos em
nosso hedonismo inconsciente ou compromissos que julgamos acima de tudo,
acabamos pondo tudo a perder.
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