Ele jamais
imaginaria que aquelas seriam as suas últimas
braçadas naquelas águas. Aquele era seu território. Ali aprendera tudo que
sabia... as artimanhas do mar como costumava chamar as mudanças do tempo. Gabava-se quando dizia que metade de sua vida
passara naquelas águas e que conhecia como ninguém as intempéries do lugar.
Orgulhoso do seu treinamento não suponha que....
Aquela
manha o tempo estava nebuloso e o vento forte refletia nas ondas que quebravam
sobre as pedras... Chegava a dar medo de ver o choque da água sobre as rochas
que ladeava. Podia-se dizer que ninguém em sã consciência entraria naquelas águas.
Todo bom pescador, salva vidas e pessoas que trabalham na orla marítima
aprendem que não se deve faltar com respeito com a natureza pois ela sempre dá
um jeito de mostrar sua superioridade. Naquele dia atípico ele acordara com um
peso na consciência como se internamente algo lhe avisasse que aquele não seria
um bom dia. Logo afastou aquela sensação...
Se por um lado não gostava de ignorá-la sabia que muitas vezes era uma sensação
sem efeito como fora em outras ocasiões. Estava apreensivo porque ainda havia
uma embarcação que não voltara apesar de toda advertência que dera sobre a
mudança do tempo. Devia ter sido mais duro agora reconhecia... Mas, quando se
trata de amigos de longa data acaba-se sendo menos criterioso e mais
complacente.
Quando
fora chamado já era tarde. O barco sucumbira muito provavelmente sem
sobreviventes. Mas, quem ficaria passivo sem antes ter a certeza que se fez
tudo que estava ao alcance? Mergulhou
nas águas furiosas na esperança de encontrar alguém com vida. Submergiu e viu a
galocha amarela sempre usada pelo capitão do barco seu amigo... O esforço que
fizera para tirar seu corpo dos escombros fora sobre-humano e exigira muito do seu corpo atlético mas
naquele momento esvaído tanta fora a energia despendida. Não havia muito o que fazer. Naquela altura só um enterro digno era o que podia pensar. O caminho do naufrágio
até seu barco de resgate não era tão grande mas sua forças para tirar o corpo fora
demasiada e parecia que para cada metro que nadava o mar lhe jogava dois para
trás. Sem contar que um corpo desfalecido pesa uma tonelada quando sem vida. Sua
teimosia em retirar o amigo da água não lhe deu o aviso que sua própria vida
estava em risco. Dado
momento percebeu que não ia conseguir levar o corpo desfalecido até o barco. Uma decisão difícil para quem planejara naquele curto espaço
de tempo um funeral digno. Soltou o corpo entristecido mas agora
começava uma outra batalha sentia que se não fosse assim sua vida estaria em risco. A fúria do mar não permitia
identificar a localização do barco embora isso não era problema ou não deveria
ser. Aquela altura atordoado e sem forças não sabia direito se podia confiar
nos seus instintos. Sabia que precisava
de toda sua consciência para conseguir sair dali mas por outro lado as águas agitadas
balançavam furiosamente sem nenhuma organização que pudesse fazer jus seu
conhecimento... e tudo que tentava baseado na sua experiência era contradito
pelo mar em fúria. Naquela briga desigual sua gana pela vida foi a cada braçada mal sucedida substituída
por uma paz estranha. Queria apenas dormir e os pensamentos foram desviados
para um lugar lindo cheio de margaridas brancas e uma gramínea verde quase
rarefeita onde borboletas voavam pacíficas inundando aquele ambiente calmo e convidativo. Ali ouvia vozes que chamavam seu nome. Tentara
de alguma forma identificar quem o chamava. Era uma voz sedutora como quando
numa cena familiar alguém nos chama para se juntar aos outros. E uma sensação
estranha de não estar no mar foi lhe envolvendo. Devia estar sonhando e iria
acordar a qualquer momento ... Então deixou-se acomodar
naquele silêncio terno.
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