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terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

E foi assim.



Ele jamais imaginaria  que aquelas seriam as suas últimas braçadas naquelas águas. Aquele era seu território. Ali aprendera tudo que sabia... as artimanhas do mar como costumava chamar as mudanças do tempo.  Gabava-se quando dizia que metade de sua vida passara naquelas águas e que conhecia como ninguém as intempéries do lugar. Orgulhoso do seu treinamento não suponha que....

Aquela manha o tempo estava nebuloso e o vento forte refletia nas ondas que quebravam sobre as pedras... Chegava a dar medo de ver o choque da água sobre as rochas que ladeava. Podia-se dizer que ninguém em sã consciência entraria naquelas águas. Todo bom pescador, salva vidas e pessoas que trabalham na orla marítima aprendem que não se deve faltar com respeito com a natureza pois ela sempre dá um jeito de mostrar sua superioridade. Naquele dia atípico ele acordara com um peso na consciência como se internamente algo lhe avisasse que aquele não seria um bom dia.  Logo afastou aquela sensação... Se por um lado não gostava de ignorá-la sabia que muitas vezes era uma sensação sem efeito como fora em outras ocasiões. Estava apreensivo porque ainda havia uma embarcação que não voltara apesar de toda advertência que dera sobre a mudança do tempo. Devia ter sido mais duro agora reconhecia... Mas, quando se trata de amigos de longa data acaba-se sendo menos criterioso e mais complacente.  

Quando fora chamado já era tarde. O barco sucumbira muito provavelmente sem sobreviventes. Mas, quem ficaria passivo sem antes ter a certeza que se fez tudo que estava ao alcance?  Mergulhou nas águas furiosas na esperança de encontrar alguém com vida. Submergiu e viu a galocha amarela sempre usada pelo capitão do barco seu amigo... O esforço que fizera para tirar seu corpo dos escombros fora sobre-humano e  exigira muito do seu corpo atlético mas naquele momento esvaído tanta fora a energia despendida.  Não havia muito o que fazer.  Naquela altura só um enterro digno  era o que podia pensar. O caminho do naufrágio até seu barco de resgate não era tão  grande mas sua forças para tirar o corpo fora demasiada e parecia que para cada metro que nadava o mar lhe jogava dois para trás. Sem contar que um corpo desfalecido pesa uma tonelada quando sem vida. Sua teimosia em retirar o amigo da água não lhe deu o aviso que sua própria vida estava em risco. Dado momento percebeu que não ia conseguir levar o corpo desfalecido até o barco. Uma decisão difícil para quem planejara naquele curto espaço de tempo um funeral digno.  Soltou o corpo entristecido mas agora começava uma outra batalha sentia que se não fosse assim sua vida estaria em risco.  A fúria do mar não permitia identificar a localização do barco embora isso não era problema ou não deveria ser. Aquela altura atordoado e sem forças não sabia direito se podia confiar nos seus instintos.  Sabia que precisava de toda sua consciência para conseguir sair dali mas por outro lado as águas agitadas balançavam furiosamente sem nenhuma organização que pudesse fazer jus seu conhecimento... e tudo que tentava baseado na sua experiência era contradito pelo mar em fúria.   Naquela briga desigual sua gana pela vida foi a cada braçada mal sucedida substituída por uma paz estranha. Queria apenas dormir e os pensamentos foram desviados para um lugar lindo cheio de margaridas brancas e uma gramínea verde quase rarefeita onde borboletas voavam pacíficas inundando aquele  ambiente calmo e convidativo.   Ali ouvia vozes que chamavam seu nome. Tentara de alguma forma identificar quem o chamava. Era uma voz sedutora como quando numa cena familiar alguém nos chama para se juntar aos outros. E uma sensação estranha de não estar no mar foi lhe envolvendo. Devia  estar sonhando e iria acordar a qualquer momento ... Então deixou-se  acomodar naquele silêncio terno.

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