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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

A árvore cabeluda



No caminho que faço para o  trabalho, nota-se  durante o percurso  a vasta gama de coqueiros  perfilados como numa fila indiana por todo o percurso.  Beirando a rua lá estão eles, disputando palmo a palmo  espaço com  os postes . Eram bem pequenos quando Ana nasceu. Agora começam  dar seus primeiros frutos. Logo, seus frutos poderão ser colhidos e saboreados ali mesmo.  Do lado esquerdo dos coqueiros é possível ver um exercito imenso de eucaliptos formando uma quadra intensa de um exército imóvel inusitado... No grande descampado onde estão os eucaliptos, há uma variedade abundante de pássaros, plantas, insetos,   dando a sensação que ao se passar ali está num pequeno parque ecológico. São tantos que precisam de manobras precisas para que não colidam..  Da rua onde estão os coqueiros pode ver uma quantidade considerável de  pés de goiabas que na época certa inalam um cheiro inconfundível das brancas, vermelhas prontas para serem colhidas, oferecidas pela mãe natureza. Se seguir adiante pelo caminho,  dificilmente não observará ela. Sim, a cabeluda. Minha filha a batizou assim. É  difícil  não concordar com ela. É uma árvore diferente de todas que já vi. Suas folhas estão verdes durante todo ano. E ao vê-la entenderá porque cabeluda. Folhas verdes em demasia dão impressão de uma cabeleira . A primeira vez que ela me disse isso, ri,. Já tinha observado a vastidão das folhas, mas só a mente de uma criança poderia fazer tal comparação. Subíamos a rua descontraídos  como sempre fazemos, quando minha filha falou:  Olha, a cabeluda! Criança tem uma visão engraçada das coisas. Naquele momento  foi como se aos meus olhos ela ganhasse vida. Desde  então sempre  que passo ali, a imagino  convidando-me para entrar no que imagino ser um reino  onde pássaros e outros seres conversam como gente. Pássaros conversando  sobre suas aventuras Outros que ali residem cuidando  da sua rotina e de seus filhos, aproveitando para pedir roteiros de viagem aos viajantes que ali passam apenas para aproveitar a  sombra e descansarem antes de prosseguir ao seu destino. . A hospitaleira então lhes fala um pouco da história dos transeuntes que passam ali todos os dias. E o que aos ouvidos humanos pareceria uma algazarra de pássaros cantando desordeiramente, aos ouvidos de uma criança  seria  um riso gostoso depois de escutarem a história de um tombo sofrido por alguém observado   pela cabeluda. Imagino que ela deva ter muitas histórias para contar, anos, e anos presenciando  idas e vindas de pessoas que caminham incansáveis pela trilha onde ela se encontra. Posso imaginar a quantidade de histórias boas que não deva ter. Até eu e minha filha devemos estar nos contos da cabeluda.  Talvez até para todos os que ali passam, aja  um apelido que identifique a personalidade de cada um.  Lá vem o professor.. .Ah, aquele é o risonho. Hum..Aquele homem quando começou passar aqui era só uma criança. Olha só como está hoje!.. Esta aí, é a Ana Luiza, passa aqui  todas sextas feiras com seu pai. Ela é toda serelepe e tem uma disposição impressionante.  Outro dia seu pai passou por aqui e perdeu cinqüenta reais quando tirou o celular do bolso. . Sabe, o pai dela é meio voado, as vezes olha pra mim e parece  saber  que  posso ouvi-los.  Aquele é o seu Manuel, passa aqui todos os dias fazendo seu Cooper. Ultimamente ele anda meio devagar. É o  joelho. Tento lhe falar , mas ele não observa os sinais que tento dar. 
Nesta época do ano, a cabeluda gera umas flores vermelhas que parecem um cone,  não sei porque elas me causam certa apreensão. Sempre me vem na cabeça que podem ser venenosas. Não sei.
Penso muitas vezes em entrar debaixo da cabeluda para aproveitar sua sombra que nos dias de calor parece tão convidativo.  Mas, não deixo de imaginar que muitos animais rastejantes devam se recorrer a ela nestes dias.. E também um pouco de vergonha por imaginar que caso alguém note entrando ali, vá imaginar que sou algum maluco. As vezes a inibição de parecer maluco nos limita. Ultimamente tem acontecido uma revolução onde trabalho, o verde tem sido substituído por prédios para atender a demanda humana cada vez maior. Fico torcendo para que a cabeluda nunca sofra com este impacto. E que possa continuar  servindo de inspiração para outras  crianças. Sendo apreciada e batizada com um nome diferente para cada uma delas. E  para que possa continuar acumulando histórias de tantos que por ali passam.

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