No caminho que faço para o trabalho, nota-se durante o percurso a vasta gama de coqueiros perfilados como numa fila indiana por todo o
percurso. Beirando a rua lá estão eles, disputando palmo a palmo espaço com os postes . Eram bem pequenos quando Ana
nasceu. Agora começam dar seus primeiros
frutos. Logo, seus frutos poderão ser colhidos e saboreados ali mesmo. Do lado esquerdo dos coqueiros é possível ver um
exercito imenso de eucaliptos formando uma quadra intensa de um exército imóvel
inusitado... No grande descampado onde estão os eucaliptos, há uma variedade
abundante de pássaros, plantas, insetos, dando a
sensação que ao se passar ali está num pequeno parque ecológico. São tantos que
precisam de manobras precisas para que não colidam.. Da rua onde estão os coqueiros pode ver uma
quantidade considerável de pés de goiabas
que na época certa inalam um cheiro inconfundível das brancas, vermelhas prontas
para serem colhidas, oferecidas pela mãe natureza. Se seguir adiante pelo
caminho, dificilmente não observará ela.
Sim, a cabeluda. Minha filha a batizou assim. É difícil não concordar com ela. É uma árvore diferente
de todas que já vi. Suas folhas estão verdes durante todo ano. E ao vê-la
entenderá porque cabeluda. Folhas verdes em demasia dão impressão de uma
cabeleira . A primeira vez que ela me disse isso, ri,. Já tinha observado a
vastidão das folhas, mas só a mente de uma criança poderia fazer tal
comparação. Subíamos a rua descontraídos como sempre fazemos, quando minha filha falou:
Olha, a cabeluda! Criança tem uma visão
engraçada das coisas. Naquele momento foi como se aos meus olhos ela ganhasse vida.
Desde então sempre que passo ali, a imagino convidando-me para entrar no que imagino ser
um reino onde pássaros e outros seres
conversam como gente. Pássaros conversando sobre suas aventuras Outros que ali residem
cuidando da sua rotina e de seus filhos,
aproveitando para pedir roteiros de viagem aos viajantes que ali passam apenas
para aproveitar a sombra e descansarem antes de prosseguir ao seu destino. . A
hospitaleira então lhes fala um pouco da história dos transeuntes que passam
ali todos os dias. E o que aos ouvidos humanos pareceria uma algazarra de
pássaros cantando desordeiramente, aos ouvidos de uma criança seria um riso gostoso depois de escutarem a história
de um tombo sofrido por alguém observado pela
cabeluda. Imagino que ela deva ter muitas histórias para contar, anos, e anos
presenciando idas e vindas de pessoas
que caminham incansáveis pela trilha onde ela se encontra. Posso imaginar a
quantidade de histórias boas que não deva ter. Até eu e minha filha devemos
estar nos contos da cabeluda. Talvez até
para todos os que ali passam, aja um apelido que identifique a personalidade
de cada um. Lá vem o professor.. .Ah,
aquele é o risonho. Hum..Aquele homem quando começou passar aqui era só uma
criança. Olha só como está hoje!.. Esta aí, é a Ana Luiza, passa aqui todas sextas feiras com seu pai. Ela é toda
serelepe e tem uma disposição impressionante.
Outro dia seu pai passou por aqui e perdeu cinqüenta reais quando tirou
o celular do bolso. . Sabe, o pai dela é meio voado, as vezes olha pra mim e parece saber que
posso ouvi-los. Aquele é o seu
Manuel, passa aqui todos os dias fazendo seu Cooper. Ultimamente ele
anda meio devagar. É o joelho. Tento lhe
falar , mas ele não observa os sinais que tento dar.
Nesta época do ano, a cabeluda
gera umas flores vermelhas que parecem um cone,
não sei porque elas me causam certa apreensão. Sempre me vem na cabeça
que podem ser venenosas. Não sei.
Penso muitas vezes em entrar
debaixo da cabeluda para aproveitar sua sombra que nos dias de calor parece tão
convidativo. Mas, não deixo de imaginar
que muitos animais rastejantes devam se recorrer a ela nestes dias.. E também
um pouco de vergonha por imaginar que caso alguém note entrando ali, vá
imaginar que sou algum maluco. As vezes a inibição de parecer maluco nos
limita. Ultimamente tem acontecido uma revolução onde trabalho, o verde tem
sido substituído por prédios para atender a demanda humana cada vez maior. Fico
torcendo para que a cabeluda nunca sofra com este impacto. E que possa
continuar servindo de inspiração para outras
crianças. Sendo apreciada e batizada com
um nome diferente para cada uma delas. E para que possa continuar acumulando histórias
de tantos que por ali passam.
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