A moça era de uma inteligência admirável... Sempre se
destacando em tudo que participava... Na dança que praticava deste criança se
destacava, na escola era a melhor da turma. Era notória em línguas estrangeiras
e formidável na língua mãe, no esporte que praticava era a líder e a principal
jogadora sem contar no grupo de amigos que era tão bem quista e a admiravam tanto. No entanto quando
começou namorar não viu o perigo a sua volta... Todas evidências do mau-caratismo
do pretendente não foi notado apesar das evidências estarem ali para todo mundo
ver. Enfim até mesmo quando tudo veio à tona ela ainda procurava meios para justificar as atitudes pouco louváveis do
mesmo.
O que há conosco quando se trata
de nossas paixões?
Nossa racionalidade ás vezes anda contrário até contra o bom
senso. O vilão? Nossas paixões. E não
estou falando da forma mais escancarada que é a aquela que logo nos chama
atenção. Estou generalizando. Sim,
se temos paixão pelo nosso time, se ela é por um partido político, ou uma
causa... se ela pende para o lado científico ou religioso... parece sempre nos
desprover da razão. Por ela a
racionalidade refuta o que está claro e cristalino... ah, ta, talvez não tão
escancarado a ponto de enxergarmos que estamos sendo incoerentes com as
evidências. Se tomamos um partido ou um
caminho convictos que ele é o mais acertado retrocedermos torna-se ameaçador.
Reconhecer que erramos ? Não é tão
simples assim. Quando depositamos nossas
fichas e quando começamos a ver que as coisas não estão saindo como deveria,
admitir que erramos torna-se algo além do racional... além daquilo que podemos
aceitar... Por que? Não é simplesmente
reconhecer que erramos? Para nossa
complexidade não. Somos compelidos a refutar, justificar e desvalorizar nossos
próprios valores, o que dá origem a muitos questionamentos sobre nossa
sanidade: Fulano não fez isso. Não, não posso acreditar. Sério, ela acreditou naquele sujeito, dizem
após saberem a forma como perdeu suas economias.
Nossas paixões e apostas desestruturam nossa
objetividade e nossa coerência se olhar pelo prisma de se estar fora do
acontecido ou seja se você é apenas um espectador. Explico: se lhe contarem a história e você tiver que opinar em uma
situação hipotética, mas claramente racional você sem pestanejar daria a
resposta considerada racional, mas sendo você a personagem real envolvida, simplesmente acolherá razões que a própria razão
desconhece... Seus pivôs de conduta que
sempre orientaram e que você julgava serem intransponíveis perdem totalmente o
embasamento. A mulher que julgava de pés
juntos nunca se envolver com um homem casado parece estar mais vulnerável que
ela pensa quando se vê a volta com esta situação batendo a sua porta. Enfim, um
dia se vê apaixonada pelo temido, e tudo o que ela repudiava e que tantas vezes
torceu o nariz quando uma amiga cedeu aos clamores da paixão, aos seus olhos
agora são compreendidos e seus valores são varridos para debaixo do tapete como
se nunca fossem empecilhos para coisa alguma, aliás, estes valores são trancafiados
dentro de um cofre a sete chaves para não serem de forma alguma um afrontamento
emocional. Em outras palavras, valores tornam-se
quinquilharias. Nada pessoal.
Embora enfatizando a paixão carnal ela se alastra a todo
tipo. De repente uma conduta arbitrária
e impositiva pode ser justificada como irrelevante. Sem o menor cunho com o
qual evidentemente está relacionado. Você
provavelmente enxergaria isto se não houvesse um envolvimento passional. Ah, mas, isto é melhor que aquilo justificaria o debutante. Sim, o viés do
sacrifício mediante o que não toleraríamos em qualquer outra circunstância. "Eu
nunca que abandonaria meus filhos por
causa de um homem...." Até que ardeu pro seu lado e
você subitamente passa a levantar o pendão que julgava nauseante, inadmissível,
desumano e desnatural.
Digo que há um perigo iminente quando tudo é justificado
pela sua despretensão em fazer o mal, quando se justifica que suas intenções eram as melhores possíveis, quando segundo seu coração o mal é necessário para um objetivo maior, quando em nome da pureza da sua alma você se tornou vítima da ocasião que você jamais em hipótese alguma teve maldades ou desejou magoar ou atingir um
inocente ou desvirtuar uma causa. Quando julga seu amor tão lindo e desprovido de qualquer mal e você é
inocente pois suas intenções são puras e honestas fazer o mal parece
justificável. Sofrer em nome do que é correto, jamais. Dar um ponto final naquilo que te faz tão bem embora está evidentemente anunciado que é errado, nunca. Como o escorpião que ao prometer para o pato que não o
picaria pois isso significaria morte para ambos o faz justificando que esta era
sua natureza.
Sim, é muito
intrigante porque nos desprovemos do nosso maior diferencial em nome da....
Parece até simplório dizer paixão já que as consequências são demasiadamente
maiores do que dela esperamos.
O problema é que
neste estado estamos imunes a sentimentalidade empática, entorpecidos pelo: eu
estou tão feliz, ou estou correto, blindado com: estes fulaninhos são tão
abestalhados que não conseguem enxergar, atropelamos tudo até tantos outros valores
que deveriam vigorar quando hipoteticamente estamos bêbados e fomos responsáveis por um acidente gravíssimo e nossa principal preocupação é, quantos pontos perderemos na carteira.