Onde será que anda a moça do
tahine, com seu charme europeu e suas palavras difíceis revelando segredos a
mim desconhecidos. Dentre tantas, dela sinto carinho especial porque ela era
minha perfeita visão feminina: encantadora, culta, humorada, sonhadora... E aquela
mulher triste? Cujos sonhos a deixaram tanto tempo numa espera interminável e
quando eles não vieram ela se tornou amarga, tão amarga. Talvez se pudesse defini-la num sabor tenho
impressão que nem o fel chegaria perto, o absinto seria até docinho. Não tive muito contado com ela, mas ela me
ensinou que se pode passar uma vida inteira entre o disparar e o engatilhar uma
arma e que entre uma coisa e outra pode haver uma
eternidade infindável de tempo. Ela me
trouxe uma pergunta que se recicla perturbatória porque não há dia que não me
pergunte por que uma pessoa se sentindo tão pouco amada persevera em continuar
a tentar, tentar e tentar. Algumas vezes me pergunto se ela estaria errada, às
vezes o sacrifício em prol de alguma coisa maior seja essencialmente o ápice do
amor, outras, a critico severamente por sua atitude, a recrimino por esperar
tanto tempo para ir em busca da felicidade. Mas será que esta procura
individual da felicidade não seria em outro dicionário descrita como egoísmo?
Flor de Liz, esta sim companheira. Encantadora
não definiria nem metade do que ela representou. Ela me tirou tantas vezes da
areia movediça e mesmo quando numa festa descrevendo o ambiente, falando de seu
sapato novo ou me falando dos seus sentimentos, ela me puxava bravamente quando eu me atolava naquela massa de areia
envolvente. Conheci sabores, inalei
perfumes,visitei lugares, sorri
pueril de situações que não estive fisicamente, mas pelos olhos dela estive lá. Flor de Liz
expirou como uma planta com tempo de
vida determinado, mas a semente que deixou parece bem arraigada.
A moça dos castelos do norte do
Brasil foi-se num relance, mas os castelos ainda permeiam na minha imaginação.
Tanta coisa que desconhecemos. Tantas coisas que os olhos deveriam conhecer... Eu
me vi andando num passado que não vivi perscrutando coisas que não presenciei,
mas a imaginação voa sorrateira e vai solta por solos desconhecidos a
esmo, livre, leve e solta como deveria ser
as coisas. Deveríamos ser desprendidos e
não estarmos aprisionados numa
camisa de força do medo, dos complexos, das incertezas, da mesquinharia,
egoísmo, dos padrões definidos...das incertezas que nos deixam presos num molde
de comportamento.
Oxente!! Aquela moça empertigada,
serelepe, uma cultura refinada que
denotava um berço bem provido que se espelhava pelo brilho da pele e as curvas
bem definidas. Uma candura generosa
assim como polida Uma dama jovem e encantadora. Uma flor esfacelada pela
traição. Tomamos do mesmo veneno e inalávamos o mesmo compadecimento:
poros e mente. O espírito debilitado,
rastejando em comunhão recíproca. Assim caminhamos enquanto foi necessário até
que no equilíbrio, mergulhamos em outros sonhos.
Tatos e fatos, bicos e redomas,
estamos sempre a procura de algo que nos transforme, que nos complete, que nos
sacie.. Assim esbarramos em pessoas que acrescentam um pouco do seu tempero. Em cada prato apreciamos impar o sabor do que nos
é oferecido e viajamos abstratos, concretos e porque não dizer indefinidos?
Porque comemos o que nos é oferecido mas
nem sempre apreciamos o que nos é
ofertado.